segunda-feira, 13 de julho de 2009

Entre Elesbão Veloso e Valença do Piauí (SENTIR-SE UM NADA)

Se você nunca sentiu-se um nada, descobri uma maneira de descrever tal sentimento. Estava eu, domingo à tarde, na BR 346, no meio do nada, entre Elesbão Veloso e Valença, às 15:30 esperando um ônibus para Teresina-PI e desenvolvi essa capacidade para descrever o indescritível.
Passou um ônibus, da empresa Progresso, a mais de 100 km/h, nem "piscou" e eu lá, no meio do mato, com cara de taxa - pensando "como seria bom um buraco na estrada, ele teria que diminuir ou parar". Mas, desgraça pouca é bobagem, 1 hora depois passa outro ônibus, dessa vez da famosa empresa "LIDA", como as pessoas no interior chamam a empresa "Líder", meu Deus, que nome ridículo para uma empresa de transporte que deixa as pessoas no meio de uma estrada ao sabor de sua própria sorte. Mais uma hora, mais uma "LIDA" passa, com fome, com sede, com dor nas pernas, cercado de insetos e num calor típico de julho (até agradável), pensei, sorte que não sou do Pará, também estaria todo molhado.
Três horas depois penso na ironia, a viagem do ponto em que estava até a capital duraria cerca de duas horas e meia.
Pense na pessoa que uma semana antes havia ido de avião para Brasília, que tinha mais que o dinheiro da passagem no bolso, que estava banhado e cheiroso para entrar no ônibus e nada... nada de carro, nada de dignidade, nada de respeito pela necessidade... nada de prestação de serviços ao cidadão, professor ou lavrador, com iguais direitos e garantias... nada foi como me senti.
Quase sete horas depois de sair do "Alto da Ilha", cheguei em casa, quebrado mas cheguei (para Brasília levaria 1:55 horas). pus-me a "remoer" meus pensamentos e sentimentos e resolvi escrever.
Agora penso no que passei, mas penso mais ainda naqueles que, como uma senhora com uma criança doente, mais necessitada que eu (em tudo), apressou-se, pegou uma moto (mais cara e menos segura) e desabou-se para a cidade, tentar fazer uma consulta com a criança. Senti-me mais ainda um nada... um nada entre alguma coisa e coisa alguma.

terça-feira, 7 de julho de 2009

PANIS CIRCENSES


O melhor da crise, seu ápice, cu-minante (mil perdões pelo trocadilho, não resisto) é a morte do megastar pop. Após comer o pão que o Diabo amassou (quem será que deu essa profissão tão honrada ao cramunhão?) e morar uma temporada na Terra do Nunca ("acompanhado" dos meninUs perdidos) Maicon Dhéksu morreu.
Mais melhor ainda (me perdoem superlativar o superlativo, mas essa oportunidade só aparece uma vez na vida, no caso, na morte), é ver que uma prática antiquíssima, e recorrentemente tradicional em países ocidentais desde então, continuará forte, mesmo nesses tempos de crise. Trata-se do circu (não resisti novamente) dos festejos fúnebres do megastar pop. Pão e Circo continua sendo a melhor política ocidental - dão alguma coisa para o povo comer e um espetáculo esdrúxulo, geralmente envolvendo a defenestração e morte de alguém ou alguma coisa (nesse caso raríssimo, tudo isso pode ser dito da mesma entidade) enterro, neste caso não significa que alguém será realmente levado à cova - como tudo nesse caso é mega, haverá uma exposição do corpo, como se expõe um troféu ou uma jóia. Expectadores esquálidos, alguns esqueléicos, outros obessos, mas todos sedentos de seu megamomento, ganham ingressos para o show, ou deveria dizer espetáculo mambembe?
Não sei ser justo, e, o bom da crise é que a justiça também fica crítica, mas ainda penso naquele filósofo (não resisto aos gregos) "Morrer mais cedo, morrer mais tarde – é questão irrelevante; relevante é, sim, saber se se morre com dignidade ou sem ela, pois morrer com dignidade significa escapar ao perigo de viver sem ela" (SENECA. Carta 70, 5-6)